(Do jornal A União, órgão oficial do Estado,
edição especial do dia 22 de agosto dc 1937, em homenagem à Cajazeiras por
ocasião das solenidades de inauguração do Monumento ao Padre ROLIM).
O padre INÁCIO
DE SOUZA ROLIM era filho de VITAL DE SOUZA ROLIM e sua esposa AMA FRANCISCA DE
ALBU- QUERQUE, conhecida por Mãe Aninha, que foi una bela expressão de piedade
cristã e generosidade d'alma, sendo conside- rada o modelo das mães
caja- zeirenses.
Sobre a
personalidade desta mulher, cuja memória é venerada respei- tosamente, muito se
tem falado de suas virtudes, e de sua ação de trabalho e a- ssistência social.
Fala-se que sempre fora uma das mais vivas preocupações de ANA DE ALBUQUERQUE
cuidar dos pobres. Quando saía para passear pelas veredas da fazenda primitiva,
levava sempre um pouco do algodão para ir fiando. Vendia depois os novelos de
fio que fazia nestes passeies a fim de aplicar o dinheiro aos pobres. Os
cajazeirenses devem ter um culto de veneração a esta mulher. Foi ela quem fez a
igreja que é hoje a Catedral de Cajazeiras. (Referência à atual igreja Matriz
de Nossa Senhora de Fátima, que foi por muitos anos a Sé Episcopal desta
Diocese). Adivinhou o futuro dessa terra. Era uma senhora sem orgulho. Apesar
de rica, dona de escravos e senhora do lugar, prestava a todos indistintamente
os seus serviços de obstetrícia. Não perguntava se era rico ou pobre, branco ou
escravo que a chamava. Tudo que uma mulher pôde ter de virtude, de piedade, de
espírito de sacrifício, de dedicação maternal, de energia, de elevação e de
beleza moral teve-o ANA DE ALBUQUERQUE.
O padre ROLIM
nasceu na então fazenda de Cajazeiras, proprie- dade de seus pais, em 22 de
agosto de 1800, sendo batizado na capela de São João do Rio do Peixe pelo padre
Inácio João. Foram seus padrinhos LUIS GO- MES, conhecido por alcunha de Velho
Alferes, e sua esposa, FRANCISCA XAVIER DE MELO.
Em 1816, foi
para o colégio do padre JOSE MARTINIANO DE ALENCAR, no Crato, donde voltou no
ano seguinte por causa da revolução de 1817. Padre MARTINIANO DE ALENCAR tomou
parte saliente nesse movimento revolucionário.
Seminário de Olinda no século XIX |
Em 1826,
ocupou o cargo de reitor daquele seminário e durante este período entregou-se
apaixona-damente ao estudo das línguas vivas e mortas. É sabido com certeza que
o padre ROLIM sabia dez línguas: latim, grego, sânscrito, hebraico, português,
francês, italiano, espanhol, inglês e alemão. Se us artigos sobre história
natural eram remetidos para Portugal e ali publicados nas revistas mais
importantes.
FIEL ADEPTO DE AZEREDO C0UTINHO
Foto da antiga matriz na década de 30 |
O padre ROLIM,
educado na escola de Azeredo Coutinho, compre- endia a indeclinável necessidade
de di- fundir a instrução como prodigiosa for- ça de levantamento moral do povo
paraibano, digamos melhor, da pátria brasileira.
O primeiro
colégio que o padre ROLIM abriu nos sertões paraibanos foi no lugar Serraria,
existindo, ainda em 1903, já denegridas e carcomidas as paredes dessa escola.
Crescendo o
número de meninos que queriam estudar, o
padre ROLIM teve de transportar o seu pequeno colégio de Serraria para mais
perto da casa de seus pais, onde fez construir uma pequena casa de taipa para
esse fim.
Foi esse o
princípio do Colégio ROLIM, que começou a funcionar oficialmente em 1843.
O COLÉGIO
PROPULSOR DO DESENVOLVIMENTO DE CAJÁZEIRAS
O colégio na década de 50 |
Em 1849, o venerando sacerdote começou os tra- balhos de um cemitério e os alicerces de um
novo edifício para o colégio.
Sobre o
colégio diz Celso Mariz. "A casa de
ensino do Padre ROLIM fazia-se À proporção que chegavam os discípulos. Cada
aluno esperava o seu teto, embora já encontrasse o seu livro".
Cardeal Arcoverde, o primeiro da América Latina |
Entre os
estudantes do citado estabelecimento figuram o saudoso CARDEAL ARCOVERDE, e
outras personalidades de relevo na política, no clero e na sociedade do Estado.
NO MAGISTÉRIO
PERNAMBUCANO
Em 1855, teve
o padre ROLIM de abandonar narra sua oficina de ensino, em virtude de exigir
Pernambuco a sua cooperação no magistério, por intermédio, do presidente JOSÉ
BENTO DA CUNHA FIGUEIRÊDO, que muito o admirava.
No Ginásio
Pernambucano esteve lecionando a cadeira do Grego, para a qual fora
especialmente chamado até 1862, voltando licenciado ao sertão, onde ficou
definitiva mente.
Floresceu o
Colégio Padre ROLIM até 1877, vindo arrefecer-lhe o prestigio a terrível seca,
que tanto desolou estes sertões, depois da qual não readquiriu mais o brilho de
outrora, apesar de grandes tentativas.
APÓSTOLO DA FE
E DA RELIGIÃO
Rua Padre Rolim talvez na década de 30 |
APÓSTOLO DA FE
E DA RELIGIÃO
Contava-o
também a ciência como um dos mais formosos prosélitos. Dedica-se às línguas e
tornara-se um poliglota. Nas ciências fizera da História Natural o campo de
especial predileção, cujos segredos perscrutava com as visões de um
predestinado desvendando o que ela tem de impenetrável. Nisto que se ilumina a
compleição do filósofo. De suas obras apenas saíram à publicidade a História
Natural e a Gramática Grega.
O padre ROLIM
pretendia ainda publicar um tratado de filosofia e outro de retórica, bem como
uma Gramática Portuguesa, o que não chegou a fazer devido a sua ojeriza às
imperfeições do serviço tipográfico verificados com a publicação de sua
Gramática Grega.
0 padre ROLIM
foi um devotado à ciência de quem muito tinha a ganhar, se a instintiva atração
o não arrastasse ao sertão e o não fizesse abandonar os grandes centros, onde
encontraria uma vasta arena de material para satisfazer a sua afanosa ânsia de
saber.
Do seu amor à
instrução, diz ainda o padre HELIODORO: "Onde quer que estivesse, fundava uma escola, sempre a investigar os
meios de melhorar a instrução e mais proveitosamente difundi-la, como se nisso
visse a pedra de toque” o momentoso problema do aperfeiçoamento de sua
pátria.
O ANIMADOR DO
PROGRESSO DE CAJAZEIRAS
Feira de cajazeiras na década de 50 |
Assim escreve
o Sr. Emídio Assis: "A 1ª feira de
Cajazeiras realizou-se em um domingo de agosto de 1848, cuja finalidade era
atrair o comércio que então se fazia regulamente em São José de Piranhas, a 5
léguas ao sul desta cidade. 0 padre ANTONIO TOMAZ, vigário da paróquia, faz a
prédica anunciando ao povo a primeira feira garantindo ao mesmo tempo o consumo
de todos os víveres que afluíssem ao mercado. Somente, a primeira feira, o
pequeno mercado não consumiu os víveres cujas sobras foram compradas pelo
tenente SABINO DE SOUSA COÊLHO e o padre ROLIM, como haviam prometido".
PADRE ROLIM
ABOLICIONISTA
Padre ROLIM
foi também um sincero admirador do ideal abolicionista, de que deu admirável
exemplo.
Em 1839,
renunciando a favor de seus irmãos a pequena herança que de seu pai lhe tocara
legitimamente, deu a carta de alforria a todos os seus escravos, procedendo (sic, acredito que o uso do vocábulo
procedendo não procede, acredito que um erro gráfico, o correto seria
precedendo), o movimento abolicionista, que só veio se verificar anos depois.
SÍNTESE DA SAED0RIA, DA VIRTUDE E DA CARIDADE.
Faleceu o
padre ROLIM às 8 horas da noite do dia de sábado 16 de setembro de 1399, em um
quarto, que lhe servia de aposento, no prédio do Colégio que fundara, onde
viveu os últimos tempos dê sua preciosa existência, entregue às práticas da
caridade cristã e a uma quase abstinência de alimentação.
Foi vitimado por uma astenia
cardíaca e senil, pertinaz incômodo que o prostrara um mês antes, pondo fim
à sua valiosa existência.
Os seus
últimos momentos foram assistidos pelo padre JOAQUIM CIRILO SÁ, que naquela
época regia a paróquia de Cajazeiras.
Foi sepultado
na segunda-feira, 18 do mencionado mês, cerca de 11 horas do dia, ao lado
esquerdo do altar-mor da Catedral, (atual Matriz de Nossa Senhora de Fátima),
templo por ele construído no início de sua imaculada vida de sacerdote
exemplaríssimo e abnegado.
O seu
passamento, narra o cronista, teve lugar em setembro, no rigor da seca,
entretanto o seu cadáver, que foi sepultado quase três dias depois da morte,
não exalava nenhum odor que indicasse putrefação.
As exéquias
foram celebradas pelos padres JOAQUIM CIRILO DE SÃ e MANOEL VIEIRA DA COSTA,
residentes em São João do Rio do Peixe.
Diz o padre
HELIODORO PIRES: "Na ocasião das solenidades do funeral, era compacta a
multidão que se acotovelava no recinto da igreja Matriz, que se tornou tempos
depois Catedral, no afã de se aproximar do ataúde do venerando extinto".
(Até aqui a
reportagem transcrita do jornal "A UNIÃO", órgão oficial do Governo
do Estado da Paraíba, edição especial do dia de domingo, 22 de agosto de 1937, em
homenagem a Cajazeiras, por motivo da inauguração do Monumento ao Padre ROLIM,
naquele dia.)
(Até
aqui a reportagem transcrita do jornal "A UNIÃO", órgão oficial do
Governo do Estado da Paraíba, edição especial do dia de domingo, 22 de agosto
de 1937, em homenagem a Cajazeiras, por motivo da inauguração do Monumento ao
Padre ROLIM, naquele dia.)
Cajazeiras, 15
de dezembro de 1978.
A foto da feira livre não é da década de 1950, como descrito.
ResponderExcluir