terça-feira, 8 de novembro de 2016

Subsídios para a História do Padre Rolim

Crônica do Professor Antonio de Sousa

Sob o título: HISTORIA NATURAL de autor sertanejo, editada em 1881, J. DE FIGUEIREDO FILHO (foto), Crato - Ceará, publicou, em setembro de 1973, na Revista Brasileira de Medicina - Vol. 30 – N0 9, importante trabalho de análise histórica sobre "a evolução relativa do Nordeste, nos últimos tempos".
J. DE FIGUEIREDO FILHO, em sua análise, afirma que "está ainda longe o momento dessa região sacudir o jugo do subdesenvolvimento". E, aprofundando o seu pensamento, ele diz: "Não há, porém, motivo para desânimo. Alguns de seus trechos começam a progredir intensamente e o nordestino, em geral, não é infenso à civilização. Tem ânsias até de melhorias. Basta simples exemplo, ã guisa de teste”.
Edifício da Fundação Cultural  J.
 de Figueiredo Filho no Crato CE

"Quando comecei o aprendizado das primeiras letras, havia, em minha cidade natal, apenas três escolas públicas primárias e outra particular. Há agora oito grupos  escolares, superlotados de alunos, no perímetro urbano, várias escolas reunidas e cerca de duzentos e cinquenta isoladas, na zona rural. Treze ginásios funcionam na sede municipal, duas faculdades de ensino superior, além de outras tantas em formação, afora estabelecimentos de cunho profissional"
Desdobrando sua análise histórica, J. de Figueiredo Filho faz uma interrogação dando a respectiva resposta: "O que era que acontecia, em épocas passadas, neste Nordeste secas periódicas sem qualquer remédio, cangacerismo político e a mais crassa ignorância". Figueiredo Filho, enfatizando acrescenta: "Mesmo em ambiente assim, surgiam núcleos de irradiação de instrução e de cultura, a lutarem tenazmente contra as mazelas do meio, a fim de modificá-lo para melhor".
Depois de uma breve digressão sobre a excursão do viajante britânico George Gardner, em 1839, nos ínvios sertões do Piauí, "que surpreendeu-se em deparar-se, em Boa Esperança, simples fazenda de Jaicós, com a inteligência”
Com frequência multiforme do Dr. MARCOS MACEDO, que fizera seus primeiros estudos ali mesmo, naqueles ermos, em Colégio bem orientado pela abnegação e competência do Padre MARCOS DE ARAÚJO CHAVES FIGUEIREDO FILHO focaliza a nossa terra, a terra do Padre ROLIM. "Na fazenda Cajazeiras, Paraíba do Norte, presentemente transformada em cidade, nasceu outra figura pioneira, que se projetaria, nos sertões nordestinos, de maneira admirável, pelo seu saber e devotamente pela causa da educação. Foi o Padre INÁCIO DE SOUSA ROLIM que criou educandário, naquelas paragens, de atuação marcante em vasta zona sertaneja. Não se contentava só ao currículo das aulas, como também fazia pesquisas e produzia livros para uso escolar. Era autor de uma gramática da língua grega adotada por muitos estabelecimentos de ensino do país".
"Na biblioteca do Instituto Cultural do Cariri, em Crato, há velho compêndio de História Natural, edição de 1881, para o ‘entretimento dos alunos’, como diz modestamente o autor Padre INÁCIO DE SOUSA ROLIM, Foi impresso na Paraíba, capital da Paraíba do Norte, agora com o topônimo mudado para João Pessoa, pela Tipografia Conservadora, à rua Visconde de Pelotas, 24".
Figueiredo Filho faz ponto na sua definição sobre a História Natural do Padre Rolim, prometendo demorar-se sobre esse livro didático, em linhas mais abaixo.
Em seguida, passa a dissertar sobre a fundação do Seminário São José, no Crato, em pleno centro geográfico do Nordeste, grande empreendimento levado a efeito pelo primeiro Bispo do Ceara - D. LUIS ANTONIO DOS SANTOS que, por duas vezes, "percorreu a cavalo a distância de quase cem léguas, entre Fortaleza e Crato. A finalidade dessa casa de educação religiosa era modificar o ambiente pela luz da instrução e formar sacerdotes, alicerçados em sólida cultura e na fé". O vasto prédio que edificou ainda hoje domina a cidade, com sua imponência. O ilustre prelado logrou ver seu empreendimento coberto de êxito. O Seminário do Crato formou as elites que, mais adiante, fariam a renovação cultural e educacional da zona.
Figueiredo Filho menciona Canindé, também no Ceará, "onde os capuchinhos fizeram outra obra de grande repercussão no interior cearense o seu colégio que abrigava centenas de estudantes pobres".
“Tanto de Cajazeiras, como do Crato e Canindé, saíram numerosos sacerdotes, em menor quantidade médicos e agricultores com base melhor para vencerem em suas respectivas profissões.
Depois de se alongar em sua apreciação sobre a evolução da obra educacional e cultural implantada nos sertões do Nordeste, através dessas três cidades - Cajazeiras, Crato e Canindé-, Figueiredo Filho, conforme prometera linhas acima, volta ao assunto da História Natural do Padre Rolim.
"Agora tomemos o fio da meada, voltando para a História Natural, do Padre Inácio de Sousa Rolim. É escrita em linguagem clara, acessível ao nível intelectual de qualquer aluno secundário".
"Demonstra o alto grau de conhecimentos humanísticos do autor. A pag. 6 evidência do valor incontestável da História Natural, em múltiplas atividades humanas, incluindo a medicina: ‘A importância prática das ciências ê muito evidente para que tenhamos necessidade de demonstrar. Para isso nos convencermos basta lançar os olhos em roda de nós; pensar nas riquezas ocultas no seio da terra, e nos serviços que a Geologia e a Minerologia dão cada dia a nossa indústria; ver as plantas tão variadas e tão belas que servem com uma magnífica prodigalidade, sendo a História Natural a que deve seguir de guia à agricultura; enumerar esses animais que nos dão carne, a lã, a seda e o mel; que nos prestam certa força de que nós carecemos; ou que bem longe de nos ser úteis como as precedentes, destroem colheitas etc. recordar-se enfim a longa série de enfermidades de que a máquina humana é muitas vezes atormentada; e bem convencer-se desta verdade que a Medicina se agita como cega, todas às vezes que não se apoia sobre o estudo científico da natureza humana".
Estuda, com poder de síntese admirável, classificando-os, os animais, vegetais e minerais. Enumera os 54 elementos conhecidos, até então, confundindo-os com corpos simples, ã maneira da Química do tempo. Erudito, conhecedor do latim e do grego, não esquece de dar, em notas, no fim de cada página, a origem do nome de famílias, ordem etc. em Botânica ou Zoologia. Exemplifiquemos: "Digitogrados forma-se do Latim - Di gitus: dedo e Gradior: - marchar, porque eles marcham apoiando no chão somente os dedos. Ornithoríneo é palavra do grego Opvis, Opvitos - pássaro, Goyssas - bico".
Dá a origem histórica das ciências naturais a começar pelos estudos de Aristóteles, até o momento quando escreveu aquele útil livro que não serviu unicamente aos seus alunos de Cajazeiras, mas a outros educandários do Norte. Sua cidade muito lhe venera a memória, dando-lhe o nome a rua, instituições e erguendo-lhe estátua.
Ruínas do Engenho D'água na
localidade de Lameiro - Crato/CE
Muito se vinculou ao Cariri cearense, onde possuía sítio no Lameiro no município do Crato. Mão se limitava somente ao estudo teórico das ciências naturais. Procurava desvendar a flora da chapada do Araripe, ao sopé da qual encravava-se a sua propriedade. Identificou fibras têxteis que pode riam substituir o linho. Procurou introduzir, no Lameiro, a cultura do linho e de outras variedades importadas. Dirigiu ofício, em busca de sementes, ao presidente do Ceará de então- Marcelino Nunes Gonçalves. Tal documento publicaremos ao encerrar este trabalho, colhido de EFEMÉRIDES DO CARIRI do escritor IRIHEU FINHEIRO e editado pela Imprensa Universitária do Ceará.
Dizem que um seu irmão, Dr. ROLIM, resi­dia em terras cratenses. Era professor de letras e meio amalucado e por isso os pais não lhe confiavam as filhas e unicamente os meninos. Na seca de 1877, a doença mental o atacou mais intensamente, como sucede em tempo de calamidade. Tornou-se até grande benfeitor dos retirantes. Organizou grupo, em sistema militar, ainda sob influência da guerra do Paraguai. Saia pelos sítios a fora com seu grupo de esfarrapados, em marcha cadenciada, ã cata de esmolas. Distribuía-as equitativamente, minorando assim o sofrimento daquela pobre gente. Procedia melhor do que o comum dos mortais, de juízo mais equilibrado do que ele.
O Padre Inácio de Sousa Rolim nasceu em 1800, na fazenda Cajazeiras, propriedade de seus genitores, o cearense Vital de Sousa Rolim e consorte - D. ANA ALBUQUERQUE. Estudou em Recife e firmou seu nome ali, na qualidade de professor. Em 1843, fundou o colégio que se notabilizou em todos os setores nordestinos. Foram seus alunos o Cardeal Arcoverde e o Padre Cícero Romão Batista. A fazenda cresceu em torno do educandário e da capela que sua genitora edificou. É agora das cidades mais cultas e prósperas do interior nordestino.
Vista atual da cidade do Crato do Lameiro, hoje uma vila.
A cultura de trigo do Padre Rolim. no Lameiro, on- de fundou também capela, já destruída pelo tempo, deu resultado, pela intensa caní- cula dos meses terminados em bê-erre-o-brô - setembro, ou- tubro, novembro e de- zembro.
O padre Inácio de Sousa Rolim foi um dos grandes construtores da civilização nordestina. O documento que dirigiu ao presidente ANTONIO MARCELINO NUNES GONÇAL- VES mostra das belas facetas de seu espírito privilegiado.
Anexo, em separata, cópia autêntica do ofício que o Padre Rolim dirigiu ao Presidente da Província do Ceará, ANTONIO MARCELINO NUNES GONÇALVES, em 19 de setembro de 1868.
                                      
                                      Cajazeiras, 19 de dezembro de 1978.
                                            Professor Antonio de Sousa


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